Artigo - Os desafios do agronegócio em 2017


2016 finalmente ficou para trás. Foi um ano muito ruim para a maior parte dos setores econômicos e a impressão que se tinha é que todos aguardavam o ano terminar para que as esperanças se renovassem e os investimentos ressurgissem na mística inconsciente de que tudo será diferente na simples virada de 31 de dezembro para 1º de janeiro.

O agronegócio brasileiro, por sua vez, teve um bom ano.  Este foi um dos únicos setores que originou boas notícias e deu ao país ao menos uma boa notícia na área econômica: a produção esteve em alta – ou houve um pequeno recuo em alguns segmentos – e as exportações cresceram, o que demonstrou uma boa capacidade de geração de riquezas.

Quando citamos determinadas culturas, a exemplo do milho e da soja, tivemos um acréscimo considerável na produção e também na exportação dos grãos, mesmo com a seca e a quebra da produção no Distrito Federal e no Mato Grosso do Sul. O mercado interno pode não ter consumido tanto pela crise econômica, mas o produtor rural não teve problemas em vender seus produtos, já que a alta do dólar propiciou a grande exportação e a recuperação dos preços e da inflação – e acabou gerando até mesmo uma leve escassez de grãos para o mercado interno, o que elevou os preços no Brasil.

Com o reflexo da maior safra de grãos, os pecuaristas também começam a ver um horizonte mais positivo. Isso porque o ano de 2016 foi marcado pelo aumento dos custos de produção, redução do consumo interno, a ausência de correção no preço da arroba do boi gordo, estreitamento das margens e concentração de frigoríficos. O setor também acredita que a queda na inflação estimule o crescimento do consumo, o que acarretará na valorização da arroba, já que 80% da produção é destinada ao mercado interno.

Outro setor que vem se recuperando e promete maior estabilidade para 2017 é o sucroenergético que, após cinco anos de crise, dá sinais de recuperação e contratou mais pessoas, produziu mais e exportou também, devido ao baixo estoque internacional.

Tantas boas notícias, entretanto, não podem mascarar os problemas que devem ser enfrentados pelo agronegócio em 2017. O acesso ao crédito, por exemplo, é um fator bastante impeditivo para que o produtor rural invista. Padeceremos com os mesmos problemas de infraestrutura para que a produção cresça ainda mais e seja escoada da maneira adequada, tanto internamente, quanto na exportação. O que se espera é que as medidas de ajuste fiscal passem no Congresso, fazendo com que entrem mais recursos no País, caiam os juros – em que pese a grata notícia vinda do Copom já nos primeiros dias de 2017 – e se amplie o seguro rural.

Outra preocupação é ligada aos Estados Unidos. Com Donald Trump assumindo a Casa Branca, novas regras protecionistas ao agronegócio americano podem ser adotadas, prejudicando as exportações para aquele país – mas, por outro lado, criando a necessidade de abertura brasileira de novos mercados.

A crise econômica brasileira também está longe de acabar. E as recuperações judiciais – assunto que tratamos aqui durante boa parte do ano passado – tendem a ser recorrentes no agronegócio. A questão é bastante ampla, já que a recuperação judicial é destinada às sociedades empresariais e aos empresários e muitos produtores rurais são pessoas físicas, não sendo nem sequer registrados em suas respectivas Juntas Comerciais. Sendo assim, não podem recorrer a essa alternativa. É uma batalha arduamente travada nos tribunais, já que muitas empresas usam a recuperação judicial de maneira a salvar empregos e continuar produzindo, porém, outras apenas desejam beneficiar-se de negociações extensas e sem juros ou qualquer ônus para proteger bens pessoais dos sócios e onerar seus credores.

Em resumo, os desafios para 2017 são velhos conhecidos e a fórmula para enfrenta-los também: trabalho duro de sol a sol e chuva na medida certa.

 

*Fernando Tardioli é advogado especializado em Agronegócio e Recuperação judicial, sócio do Tardioli Lima Advogados.